19 Abril 2025

JFN

Newcastle conquista título histórico e revive sonhos com estratégia saudita

Dan Burn correu de braços abertos em direção à torcida do Newcastle United, parecendo um anjo de carne e osso. Sua pose lembrava a icônica escultura “Angel of the North”, localizada nos arredores de Newcastle, com seus impressionantes 20 metros de altura e 54 metros de largura. Antes da final da Copa da Liga Inglesa, disputada no domingo no estádio de Wembley, em Londres, contra o Liverpool, uma bandeira havia sido colocada na escultura com os dizeres “25” e “Tell me ma” – referência ao ano e a um famoso canto dos torcedores (“Diga à mamãe, estamos indo para Wembley”). A imagem representava a esperança dos fãs dos “Geordies”, como são conhecidos os moradores de Newcastle. Para muitos, esses sonhos futebolísticos pareciam inalcançáveis. Mas Dan Burn os tornou realidade.

Setenta anos depois de seu último título na FA Cup, em 1955, o clube voltou a erguer uma taça. Em uma partida emocionante, o Newcastle derrotou um Liverpool desgastado pela eliminação na Champions League por 2 a 1. O inglês Burn, eleito o melhor jogador da final, abriu o placar com um cabeceio fulminante aos 45 minutos. Alexander Isak ampliou aos 52, e Federico Chiesa descontou para os Reds já nos acréscimos (90+4), mas já era tarde. “Não quero dormir esta noite, parece um sonho, como se tudo isso fosse mentira”, disse Burn, visivelmente emocionado. Milhares de torcedores ecoavam o mesmo sentimento, comemorando o feito histórico até o amanhecer.

Para Bruno Guimarães, capitão brasileiro do Newcastle, a conquista teve um significado gigantesco. “Esse título é como uma Copa do Mundo para o clube. Não tenho palavras, é o melhor dia da minha vida”, afirmou o jogador. Nas arquibancadas de Wembley, muitos torcedores choravam de emoção, entre eles Alan Shearer, lendário atacante e ídolo do Newcastle. Até mesmo o comentarista Gary Neville, acostumado a demonstrar paixão apenas pelo Manchester United, se deixou levar pela emoção e chegou a sugerir um “feriado Geordie”. O clube, ainda nos vestiários, fez questão de publicar uma mensagem simbólica: “Não vencíamos um título nacional há 0 anos” – uma expressão do imenso desejo por essa conquista.

O investimento saudita e a reconstrução do Newcastle

Para muitos, o título da Copa da Liga representa o renascimento do Newcastle, um dos clubes mais tradicionais da Inglaterra, fundado em 1881 e tetracampeão inglês. No entanto, esse renascimento precisou de uma ajuda significativa. Em outubro de 2021, o Fundo de Investimento Público (PIF) da Arábia Saudita adquiriu o controle do clube. Desde então, o Newcastle se tornou uma espécie de “plataforma” do regime saudita no futebol europeu, o mesmo país que recentemente garantiu o direito de sediar a Copa do Mundo de 2034.

O caso de Newcastle guarda semelhanças com o de Manchester City, comprado em 2008 por investidores de Abu Dhabi, que transformaram o clube em campeão da Premier League em apenas quatro anos. Mas o Newcastle precisou de uma abordagem mais estratégica. Quando o PIF assumiu o controle, o time ocupava a lanterna da Premier League e, diferentemente do City em 2008, enfrentava regras financeiras muito mais rigorosas. Mesmo com o apoio de um fundo soberano estimado em quase um trilhão de euros, os desafios foram grandes.

O sucesso do Newcastle não veio apenas pelos investimentos sauditas, mas também por uma gestão bem planejada. Amanda Staveley, a empresária que intermediou a venda do clube, teve um papel essencial nesse processo. No entanto, no verão passado, Staveley foi afastada do Newcastle, supostamente por ter se tornado uma figura muito pública dentro do clube, o que desagradou os proprietários sauditas.

No domingo, apenas Yasir Al-Rumayyan, presidente saudita do Newcastle, ergueu a taça da Copa da Liga em Wembley. Em seguida, ele e sua comitiva deram uma volta olímpica pelo gramado, celebrando um triunfo que marca um novo capítulo na história do clube – um capítulo financiado pelo poder saudita, mas conquistado dentro de campo com suor e paixão.